Irmãos e irmãs das Comunidades Eclesiais de Base de todo o Brasil
Sob o céu da rica cidade de Santo André/SP, fomos chegando de todos os pontos do Estado de São Paulo, de norte a sul, de leste a oeste e do Triângulo Mineiro, e sendo acolhidos/as pela hospitalidade e fraternidade das famílias.
Seguindo os trilhos da fé, movidas pelo combustível da esperança, as CEBs estacionaram por três dias seu trem, armando sua tenda na Paróquia São Geraldo Magela; dos Padres Filhos da Caridade, com seus vagões cheios de alegria e esperança, impulsionadas pela indignação profética contra a injustiça, omissão e a indiferença que tornam milhares de irmãos e irmãs empobrecidos e nossa preocupação com o atual cenário político que afeta, sobretudo, a vida dos pobres.
Frente a essas realidades, angustias e desafios, nos encontramos para conversar e refletir sobre Nossa Casa Comum e as CEBs no Mundo Urbano em vista de um “mundo outro” possível, urgente e necessário.
Na manhã de sábado tivemos a oração conduzida pela Irmandade do Servo Sofredor, que vive a mística do cuidado e da simplicidade, ajudando-nos a fazer a experiência do silêncio em meio à agitação do mundo urbano.
Padre Manoel Godoy, assessor do encontro, nos apresentou o quanto aqueles e aquelas que vivem a cultura urbana trazem consigo as raízes da cultura rural. Mostrou-nos também os desafios que a cidade nos impõe, principalmente partindo do modo como o fenômeno da urbanização ocorreu no Brasil nos últimos tempos (de 80% de pessoas vivendo no campo para 82% vivendo na cidade). Essa urbanização acirrou uma crescente desigualdade, manifestada na falta de estrutura básica de saúde, educação, emprego, segurança e moradia.
Enquanto Comunidades Eclesiais de Base, refletimos nos grupos as provocações que a cidade nos traz, enquanto seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré que veio para que houvesse abundancia de vida para todos (João 10,10).
O trem das CEBs em Santo André também se abasteceu com a memória do testemunho de profetas e profetisas em busca da justiça e da transformação da realidade. Fizemos memória dos 20 anos do Massacre do Eldorado dos Carajás, em que tantos trabalhadores e trabalhadoras tombaram vítimas do latifúndio e da concentração de renda. Mártires em defesa da reforma agrária, partilha da terra, dom de Deus.
Na manhã de domingo, a oração nos provocou a assumir efetivamente nossa missão de seguimento dos passos de Jesus de Nazaré, o Bom Pastor; frente a uma Igreja ainda autorreferenciada, centrada no clero e nos sacramentos, com fortes exclusões de leigos e leigas. Ousamos continuar construindo uma Igreja “em saída”, toda ministerial e livre da desigualdade de gênero.
Diante da conjuntura atual em que o Brasil se encontra, repudiamos veementemente o processo injusto e discriminatório deflagrado por parte das elites e da mídia hegemônica, que tentam, a qualquer custo, depor de forma antidemocrática um governo eleito por vontade da maioria do povo brasileiro.
Reafirmamos nosso total apoio em defesa do Estado Democrático de Direito conquistado com lutas e sonhos, sangue e martírio de milhares de brasileiros e brasileiras.
Como comunidades seguidoras do Crucificado/Ressuscitado conclamamos todos os cristãos/ãs a assumirem com firmeza e coragem, à luz do Evangelho Libertador, um posicionamento claro, não aceitando o silêncio, omissão e medo de tantos/as. “Se você é neutro em situações de injustiça, você escolhe o lado do opressor” (Desmond Tutu)
Que a Mãe Negra Aparecida, nossa Padroeira, nos inspire e acompanhe, e ilumine os rumos do Brasil, para que possamos, como um só povo, caminhar rumo à realização da civilização do amor.
Participantes do 7º Seminário CEBs Regional Sul 1 CNBB de Assessores/as, Religiosos/as e Animadores/as
Santo André/SP, 17 de abril de 2016.